Em meio a um cenário caótico de ausência de políticas públicas que, de fato, funcionem e protejam os animais domésticos e à falta de conscientização popular sobre o crime de maus-tratos, o número de cães e gatos abandonados nas ruas das cidades brasileiras é alarmante.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que em 2014 já ultrapassassem a cota de 30 milhões no Brasil inteiro, tornando-se um caso de saúde pública. Animais não cuidados podem ser vítimas de graves doenças, entre elas, raiva e leishmaniose, transmissíveis também aos seres humanos.
Nos centros urbanos, a proporção é de um cachorro para cada cinco habitantes, sendo 10% abandonados. Em cidades menores, a estatística pode chegar a um quarto da população local.
A falta de investimento em campanhas públicas de castração gratuita é um dos principais motivos da superpopulação de pets. Em Minas Gerais, mesmo após a publicação da Lei Estadual 21.970, de 2016, que determina que os municípios mineiros são responsáveis por garantir o controle ético da população de animais de rua, por meio de medidas socioeducativas e castração em massa, na prática, poucas cidades cumprem a obrigação. Na capital mineira, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) dispõe de algumas unidades de esterilização gratuita nos bairros Caiçara, Salgado Filho, São Bernardo e região do Barreiro.
Apesar da oferta do serviço, inúmeros animais só são castrados com o apoio de organizações não governamentais (ONGs), entre elas, a Associação Bichos Gerais. Desde 2001, a instituição faz mutirões de castração gratuita em comunidades carentes e em animais resgatados por protetores, realiza castração a baixo custo aberta à população, além de castrar animais de rua que vivem em espaços públicos da cidade. Outro exemplo de iniciativa privada é a Associação Cão Viver, localizada em Contagem.
Em 15 anos de atividades, a ONG já resgatou mais de 32 mil animais, posteriormente encaminhados à adoção já castrados e vacinados. Contudo, Denize Menin, uma das fundadoras, alerta: “Os abrigos particulares nunca serão capazes de suprir a omissão do poder público”.
A 24 quilômetros da capital, o município de Nova Lima e seus distritos também não contam com castração pública gratuita. Bairros como Jardim Canadá, localizado às margens da BR-356, são reduto de abandono. Iniciativas privadas como a do Projeto Cães do Jardim buscam fazer o que as autoridades competentes não fazem. Desde 2013, mais de 2 mil animais já foram castrados com recursos arrecadados por voluntários.
“Nosso foco é a esterilização cirúrgica e a conscientização da população sobre o crime de maus-tratos”, diz Luciana Faitin Cotta. Próximo dali, em Casa Branca, Brumadinho, a situação se repete. Sem política pública de castração gratuita, o município é palco de inúmeros animais abandonados. Alguns profissionais esforçam-se para colaborar para a mudança desse triste cenário. A veterinária Lorena Ferreira Amaral, da clínica Bichos da Serra, já realizou mais de 2,5 mil castrações de animais de rua na região. “Não existe outra forma de acabar com tamanho sofrimento”, diz.
Considerando que uma cadela de porte médio pode ter duas gestações ao ano, tendo de oito a doze filhotes por vez, ao final de um ano, serão cerca de 16 a 24 novos animais. Destes, as fêmeas também procriarão a cada seis meses nas mesmas proporções. Uma conta que nunca se fecha. Para a especialista, a castração traz vários benefícios, inclusive para os animais que têm dono e são de raça definida. O corretor de imóveis Fernando Portela não teve dúvidas ao castrar o maltês Snow, de 2 anos e meio. “Ele ficou menos imperativo e parou de marcar território”, conta.
Apesar de tanto descaso, um foco de esperança surgiu há 100 quilômetros de Belo Horizonte, em Conselheiro Lafaiete. A cidade se tornou referência nacional com o programa Quem Ama Castra, com o maior número de animais esterilizados do Brasil. No CCZ da cidade, além de não haver a prática de eutanásia de cães e gatos saudáveis, a parceria com ONGs locais possibilita o resgate dos animais e o encaminhamento para adoção. No norte da Europa, outra prova de que quando há interesse político e engajamento social a realidade pode ser modificada.
A Holanda se tornou o primeiro país do mundo a erradicar o abandono sem sacrificar nenhum animal. Para alcançar essa façanha, baseou-se em quatro pilares fundamentais: penas severas para casos de abandono e maus-tratos, multas para infrações, campanhas de castração e conscientização, somados a um alto imposto para a compra de cachorros de raça, a fim de estimular a adoção.
Evita doenças?
VERDADE. Nas fêmeas reduz a incidência de câncer de mama e ovário, infecções uterinas, piometra, doenças venéreas, além do risco de gravidez psicológica. Nos machos reduz a chance de câncer de testículo e próstata
Existe idade ideal para a castração?
VERDADE. A partir do quinto ou sexto mês de nascimento para machos e fêmeas. O ideal é realizar antes do primeiro cio
Promove mudanças no comportamento?
VERDADE. Reduz o índice de fuga, brigas, especialmente entre machos por fêmeas no cio, e diminui o hábito de demarcar território com urina por toda parte
Muda o temperamento do animal?
MITO. O animal não perde sua personalidade. Se for um cão de guarda, mais agressivo, por exemplo, tende a continuar com as mesmas características, assim como se for um cão dócil e brincalhão
O animal sofre durante o procedimento?
MITO. A cirurgia é feita somente após os pets estarem devidamente anestesiados
Animal castrado engorda?
DEPENDE. Algumas raças tendem a ganhar peso, por isso é importante manter dieta balanceada e praticar exercícios físicos
Anestesia inalatória é mais segura?
VERDADE. Especialmente para raças braquicefálicas (focinho curto) como bulldog francês, pug, boxer, pequinês e shi-tzu
Fonte: especialistas consultados