Remédio para HIV pode reduzir danos do envelhecimento

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Um novo estudo da Universidade Brown, nos Estados Unidos, descobriu que um remédio antirretroviral, usado no combate ao HIV, é capaz de reduzir os processos inflamatórios relacionados ao envelhecimento em camundongos. “Isso é promissor no tratamento de doenças associadas à idade, incluindo o Mal de Alzheimer. E não apenas o Alzheimer, mas muitas outras doenças: diabetes tipo 2, Parkinson, degeneração macular e artrite, por exemplo. Esse é o nosso objetivo”, comenta o pesquisador John Sedivy, professor de Ciências Médicas e Biologia, em entrevista para o portal da universidade americana.

Os resultados da pesquisa promissora foram publicados na última quarta, dia 6 de fevereiro, na revista científica Nature. O estudo contou também com a ajuda de cientistas da Universidade de Nova Iorque (EUA), da Universidade de Rochester (EUA), da Universidade de Montreal, no Canadá, da Universidade da Virgínia (EUA) e da Universidade de Leiden, na Holanda.

De acordo com Sedivy, a droga intitulada lamivudina atua impedindo a atividade dos retrotransposões em células velhas, incapazes de se multiplicar. Os retrotransposões são sequências de DNA que se replicam e mudam para diferentes partes do corpo. Eles estão relacionados a antigos retrovírus que, quando não controlados, podem produzir cópias do próprio DNA e injetá-las em outras células, gerando uam “infecção” generalizada.

No artigo recém publicado na Nature, a equipe de pesquisa encontrou uma classe importante de retrotransposões, chamada L1, em cobaias velhas. Ela escapa do controle celular e começa a se replicar nas células envelhecidas, que se multiplicam pelo organismo. Em resposta a essa replicação descontrolada, o sistema imunológico reage liberando a proteína conhecida como interferon, que acaba desencadeando uma inflamação nas células vizinhas, de acordo com os pesquisadores.

“Quando começamos a dar o remédio contra HIV para ratos, notamos que eles apresentaram incríveis efeitos anti-inflamatórios. Nossa explicação é que, embora os L1s [retrotransposões] sejam ativados relativamente tarde na terceira idade, a resposta do interferon é responsável pela inflamação associada à idade”, afirma John Sedivy ao portal da Unievrsidade Brown.

Na pesquisa, camundongos com 26 meses de idade (que equivale a 75 anos dos humanos) receberam lamivudina por apenas duas semanas e o fármaco conseguiu reduzir a resposta do interferon e a inflamação. Para os camundongos de 20 meses de idade, a lamivudina administrada por seis meses também diminuiu os sinais de perda de muscular, bem como danos senis causados nos rins.

Os resultados são encorajadores, mas ainda há muito trabalho a ser feito, como afirma Sedivy. “Se tratamos com lamivudina, conseguimos criar uma barreira na resposta do interferon e da inflamação. Mas o organismo não volta totalmente ao normal. Podemos resolver parte do problema, mas ainda não entendemos todo o processo de envelhecimento”, completa o cientista americano.