A relação do menino Gabriel Capossoli Cortes, de 4 anos, com os animais de estimação da família teve início antes mesmo de ele nascer. O pai, o psicólogo Mauro Vilela, lembra que ao retornar com a mulher, Marisa Capossoli, de uma viagem a Punta Cana, na República Dominicana, um de seus cães, o rotweiller Bernardo, de 10 anos, não pulou na dona como de costume. Também não deixava que os demais cães se aproximassem dela. Poucos dias depois descobriram o motivo. Marisa estava grávida e o cão, na verdade, queria protegê-la. “No dia em que chegamos da maternidade ele pulou o portão de casa pela primeira vez e começou a uivar. Só se tranquilizou quando o deixamos se aproximar e cheirar o Gabriel. Desde então, tornaram-se grandes companheiros”, lembra o pai.
O vínculo do menino com os animais se tornou cada dia mais forte. A rotweiller Estrela, de 2 anos, é uma de suas preferidas. Mesmo tão pequeno, Gabriel já entende a importância de cuidar e ter compaixão pelos bichos. Fica triste quando eles se machucam ou adoecem e não troca as brincadeiras ao ar livre com os peludos nem mesmo pelos jogos no computador. “Sem dúvida, essa ligação promove uma verdadeira transformação afetiva na criança. Até mesmo a perda de alguns deles já o faz compreender melhor o ciclo natural da vida”, diz Mauro.Estudos apontam que a relação humano-animal potencializa comportamentos essenciais para a saúde e o bem-estar de ambos, ampliando as interações emocionais, físicas e psicológicas. É na infância que se aprende valores que são levados para toda a vida, entre eles respeito, compartilhamento e responsabilidade. Na casa da veterinária Marcela Ortiz, o que não falta são hóspedes excêntricos.
Especializada em animais exóticos, a convivência com coelhos, furões, cobras e pássaros, entre outras espécies, é algo corriqueiro. Como “filho de peixe, peixinho é”, aos 3 anos de idade, a filha, Paris Ortiz Alvarenga, já ensaia atendimento aos pacientes em seu improvisado consultório domiciliar. No auge de seus 16 anos, a tartaruga Casquinha recebe cuidados especiais da menina. A pata Margarida tem apenas 4 meses e se adapta a uma prótese ortopédica após perder uma das patas. Já a ave Biscoito, um agaporni de 5 anos, exibe a beleza de suas penas coloridas e parece sempre disposto a posar para fotos. “Eu me lembro que quando a Paris ainda era bebê a apresentei a todos os nossos bichinhos. O carinho dela é espontâneo. Ela conversa e até reza por eles”, diz Marcela. Orgulhosa, ressalta que a convivência da filha com os pets a tornou uma criança fácil de lidar, defensora dos mais fracos e ciente dos seus limites. “Ela sabe que se exagerar na dose vai levar uma mordida ou bicada, o que acredito ser uma importante lição sobre paciência e respeito. Por mais diferente que seja o bicho, aqui em casa ele nunca é esquisito, e sim especial”, diz.
A advogada Fernanda Bouchardet também não priva a pequena Elis, de 4 anos, de conviver com os bichanos da casa. Filha única, ela aprendeu a compartilhar o espaço e a atenção da mãe com os pets, e não reclama. Difícil mesmo é desgrudá-la dos gatos. Batatinha, de 6 meses, e Bruce Lee, de 11 anos, são seus preferidos. Ao contrário do que dizem sobre o comportamento egoísta dos felinos, eles correspondem aos carinhos da menina e interagem com suas brincadeiras. “Nesse caso, eles é que acabaram com qualquer tipo de atitude egoísta que uma criança criada sem irmãos poderia ter”, diz. Os benefícios do convívio entre humanos e animais de estimação ultrapassa a seara comportamental. Estudo realizado pela Universidade da Finlândia para a revista Pediatrics concluiu que bebês com menos de 1 ano de idade que convivem com cães ou gatos têm 30% menos probabilidade de sofrer de tosse, rinite ou febre. O contato direto com germes e bactérias vindos dos pets faz com que as defesas da criança se potencializem e que ela se torne mais resistente a problemas respiratórios, alergias e infecções.