Uma molécula desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) poderá aumentar a qualidade e a expectativa de vida das pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca – hoje em torno de cinco anos para grande parte deles. A nova molécula, intitulada Samba, foi criada em cooperação com a Universidade de Stanford, dos Estados Unidos e abre caminho para novos medicamentos capazes de frear a evolução da doença de maneira mais eficaz do que os já disponíveis.
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Nature Communications no dia 18 de janeiro deste ano. A publicação sobre ciências naturais é uma das principais revistas acadêmicas do mundo e abrange assuntos relacionados à Física, Química, às Ciências da Terra e Biologia.
Como se sabe, a insuficiência cardíaca é o último estágio de diversas doenças cardiovasculares, enfermidades que mais matam no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A estimativa é que 17,7 milhões de pessoas tenham morrido em decorrência de problemas cardíacos em 2015, representando 31% de todos os falecimentos no mundo. A insuficiência cardíaca pode ser causada por um infarto mal tratado, pela hipertensão, e por problemas em alguma válvula do coração.
“A maioria dos medicamentos disponíveis hoje para tratar a insuficiência cardíaca foi desenvolvida da década de 1980 e atua fora da célula cardíaca. Precisamos de medicamentos mais efetivos que controlem processos críticos na célula cardíaca em sofrimento, capazes de aumentar o tempo e a qualidade de vida dos pacientes. Mas essa é uma tarefa árdua”, comenta Julio Cesar Batista Ferreira, professor do ICB e coordenador do estudo, em entrevista ao Jornal da USP.
Segundo o artigo recém publicado, o tratamento com a nova molécula Samba conseguiu frear a progressão da insuficiência cardíaca em cobaias. Ratos com quadro de insuficiência cardíaca tratados por seis semanas com a promissora substância apresentaram não só uma estabilização da doença – como ocorre com o uso dos medicamentos atuais – mas também tiveram regressão do quadro. Os animais adquiriram uma melhora na capacidade de contração do músculo cardíaco.
A molécula também foi testada em células cardíacas humanas. Os resultados mostraram que, além de frear o avanço da doença, houve melhora da capacidade dessas células se contraírem. “As drogas atuais freiam a progressão da doença, mas nunca fazem com que ela regrida. O que mostramos é que, ao regular essa interação específica, diminui-se a progressão e ainda traz a doença para um estágio mais leve”, diz Julio Ferreira.
(com Jornal da USP e Agência Brasil)