O dia que cacheei

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Olhar no espelho e odiar o que vê é uma das piores situações que uma mulher pode viver. Algo comum, porém anormal. Assim vivi boa parte da vida descontente com o meu cabelo “ruim”e trabalhoso. E, pra falar a verdade, acho que a minha história é mais parecida com a de inúmeras cacheadas, onduladas e crespas que esconderam a sua verdadeira identidade debaixo de chapinhas e progressivas.

Pense só, uma criança ter repúdio do próprio cabelo por não ser igual de outras amiguinhas? Minha mãe sempre prendeu meu cabelo com rabo de cabelo, e eu gostava por deixar a minha jubinha controlada. Mas chegar na pré-adolescência não foi fácil, ainda mais que a moda do liso era tendência até mesmo nas prateleiras das perfumarias que vendiam relaxantes para crianças. Com 12 anos já relaxava o cabelo para diminuir o volume, que odiava.

Ainda com 12 aprendi a fazer escova e prancha nos meus próprios cabelos, passava cerca de três horas para esticar cada cachinho e ficar perfeitamente como desejava. Em um dos dias de luta, pois não era fácil ter a rotina de alisar, quase que o secador sugou metade do meu cabelo por um pequeno descuido que tive. A verdade é que eu não gostava de viver aquilo, era desgastante e incômodo.

No fim da fase teen, quando a gente decide a ter certos princípios e formar a nossa identidade, já não me enxergava naquele “falso liso”, além de estar totalmente indisposta a continuar, mesmo com a progressiva que facilitou, sim, a minha vida de alisada. Foi uma decisão fácil, determinada, porém com dificuldades que não esperava: o longo tempo e a rejeição.

Foram longos árduos dois anos de espera para retirar todo e qualquer química de alisamento do cabelo, permaneci com as técnicas de escova e prancha para alisar, mas a ansiedade de me libertar e ficar naturalmente cacheada atrapalhava qualquer tranquilidade. Quando, enfim, no ano de 2013, me tornei cacheada, tive bons feedback`s, mas tive aqueles com o tom de “Prefiro você lisa”, “Acho que deixou você mais gorda”, “Que bobeira essa onda de cachos”.

Poderia ter dado ouvidos às descontentações? Sim. Mas me vi no espelho e, fazendo trocadilho de versos do encantador Tiago Iorc, eu “amei me ver”! Além das facilidades de cuidar dos meus cachos, de andar em dias de chuva sem preocupação, ter menos gastos em produtos e tempo, me identifiquei com o que vi e adorei. Parece ser exagero, mas mulher sabe bem como cabelo é um aspecto fundamental para a imagem dela e um bem imensamente precioso.

Deixo claro que não sou contra a qualquer método de alisamento, afinal, isso é escolha pessoal que nem cabe críticas e discriminações. Tudo o que falei até aqui é um relato de quem esteve com vergonha de seus próprios cachos, do seu volume, da beleza que é viver naturalmente. Ame quem é, ame seu cabelo independente da forma que é. Ame se ver!

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Coluna de Giselle Vieira
Jornalista e blogueira do Alô Mulherada
Instagram: @alomulheradablog